Armas falantes

Em heráldica, chama-se armas falantes, às armas (brasões) que comportam figuras, que pelo seu nome ou pela sua imagem, evocam mais ou menos directamente o nome (por vezes a função) do possuidor dessas armas.

Essa evocação pode ser feita por diversos processos:

  1. diretamente: um leão para o Reino de Leão ou um castelo para o Reino de Castela;
  2. por homonimínia: a granada (duma romã) para a cidade de Granada (Espanha) ou um ramo (francês: "rameau") no bico de uma pomba para Jean-Philippe Rameau;
  3. por aproximação: um cálice para Galiza; ou uma cobra (latim: coluber) para Colbert;
  4. por figuração etimológica: um braço carregando uma lança para Shakespeare (inglês: «shake [agitar]-speare [lança]»); um boi com os pés na água para Oxford («Vau do boi»);
  5. por forma hieroglífica: um castelo e uma raposa para a comuna de Châteaurenard (francês: castelo-raposa); um freixo com espadas à cintura para o Concelho de Freixo de Espada à Cinta;
  6. em segundo grau: para associações de nomes, como um veleiro para a comuna de Marines (Val-d'Oise), ou o alerião (em francês«ALERION») que originaria o anagrama «LOREINA» (Lorena);

ou mesmo pela combinação de dois (ou mais) processos. Vejamos:

  • 1 Diretamente Reino de Castela
    1 Diretamente
    Reino de Castela
  • 2. Homonímia Jean Philippe Rameau (Ramo)
    2. Homonímia
    Jean Philippe Rameau (Ramo)
  • 3. Aproximação Galiza (Galicia Cálice)
    3. Aproximação
    Galiza (Galicia Cálice)
  • 4. Etimologia Oxford (vau do boi)
    4. Etimologia
    Oxford (vau do boi)
  • 5. Hieroglífico Freixo de Espada à Cinta
    5. Hieroglífico
    Freixo de Espada à Cinta
  • 6. Segundo grau Marines (Marinha)
    6. Segundo grau
    Marines (Marinha)


No Reino Unido o antigo termo armas cantantes permaneceu na terminologia utilizada, sendo aí também aplicado quer a famílias britânicas (na totalidade do nome - Bowes-Lyon) quer a componentes (peças) do brasão (escudo da princesa Beatriz)

  • Família Bowes-Lyon Bowes (Arcos) - Lyon (leão)
    Família Bowes-Lyon
    Bowes (Arcos) - Lyon (leão)
  • Princesa Beatriz Beatrice (bee thrice/três abelhas) nos pendentes do lambel
    Princesa Beatriz
    Beatrice (bee thrice/três abelhas)
    nos pendentes do lambel


Em Itália o uso de armas falantes por diversas famílias nobres era bastante comum como se demonstra em seguida:

  • Família Colonna (colonna = coluna)
    Família Colonna
    (colonna = coluna)
  • Família Della Scala (scala = escada)
    Família Della Scala
    (scala = escada)
  • Família Della Rovere (rovere = carvalho)
    Família Della Rovere
    (rovere = carvalho)
  • Família Malaspina (malaspina = espinho mau)
    Família Malaspina
    (malaspina = espinho mau)
  • Família Malatesta (malatesta = cabeça má)
    Família Malatesta
    (malatesta = cabeça má)
  • Família Pacelli (pace = paz)
    Família Pacelli
    (pace = paz)
  • Família Pignatell (pignate = jarro)
    Família Pignatell
    (pignate = jarro)
  • Família Spada (spada = espada)
    Família Spada
    (spada = espada)


Também em Portugal, e a exemplo do que aconteceu noutras jurisdições, as armas falantes generalizaram-se quer em brasões pessoais, familiares ou toponímicos. Um exemplo interessante é a denominação Serpa, derivada da criatura heráldica Serpe, figura que veio a ser utilizada num brasão pessoal dum príncipe, no de uma família e no de uma localidade. Vejamos:


Na Wikipedia é utilizado o símbolo para ilustrar as armas falantes.


Referências/Bibliografia

  • Carlos Carvalho da Fonte [1]
  • Armorial Lusitano, Dir. de Afonso Eduardo Martins Zuquete - Representações Zairol 1987
  • O. Neubecker, "Le Grand Livre de l'Héraldique" - Bordas 1981, ISBN 2-8003-01-2582-5